23.5 C
Brasília
23.5 C
Brasília
sábado, dezembro 21, 2024
spot_img

TCU Expõe Falhas nos Programas PROAGRO e ZARC; Conheça as Determinações e Recomendações

O Tribunal de Contas da União (TCU) conduziu uma auditoria que expôs fragilidades no Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro) e no Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC). Esses programas, fundamentais para a mitigação de riscos no setor agropecuário brasileiro, apresentam deficiências estruturais que comprometem sua efetividade. A análise do TCU, conduzida sob o processo TC 014.798/2023-9, resultou em determinações aos Ministérios da Agricultura e Pecuária e do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar e em recomendações ao Banco Central e à Embrapa.

Para o relator da fiscalização, ministro Vital do Rêgo, os programas desempenham papel essencial para a mitigação de riscos agropecuários no Brasil, especialmente em um cenário de mudanças climáticas crescentes. Contudo, o modelo atual precisa ser formulado para evitar ineficiências, reduzir conflitos de interesse e garantir mais sustentabilidade fiscal.

“É fundamental que avancemos para um sistema que, além proteger os agricultores, incentive práticas mais modernas e sustentáveis, fortalecendo a governança pública e promovendo maior resistência no setor”, afirmou o relator.

Proagro: Deficiências na Gestão de Riscos Financeiros

O Proagro é um programa de seguro rural que cobre prejuízos causados por fenômenos climáticos e pragas. Contudo, a auditoria revelou as seguintes fragilidades:

•Problemas na Avaliação de Perdas: A fiscalização sobre os sinistros declarados pelos agricultores é insuficiente, gerando dúvidas sobre a confiabilidade das indenizações pagas.

•Ineficiência Operacional: Atrasos e falta de transparência nos processos de compensação financeira comprometem a credibilidade do programa.

•Expansão sem Planejamento Adequado: O número de contratos tem crescido significativamente, mas sem o acompanhamento de melhorias no sistema de gestão, ampliando os riscos de inconsistência nos pagamentos.

ZARC: Dependência Financeira e Falta de Atualizações

Criado em 1996, o ZARC é essencial para orientar os agricultores sobre épocas, locais de plantio e riscos climáticos. Entretanto, o TCU identificou problemas críticos:

•Dependência Orçamentária: O ZARC depende de convênios temporários com o Banco Central e a Embrapa, sem recursos fixos ou planejamento orçamentário de longo prazo. Desde 2019, a principal fonte de financiamento são convênios que não garantem sustentabilidade.

•Limitações nos Dados e Metodologias: A auditoria apontou deficiências na atualização de dados climáticos e nas metodologias utilizadas para analisar os riscos, o que reduz a eficiência das recomendações emitidas.

•Falta de Ampliação e Inclusão: Apesar de contemplar 44 culturas agrícolas, o ZARC ainda carece de cobertura para culturas emergentes e de abordagens específicas para pequenos agricultores, que são mais vulneráveis.

Principais Determinações e Recomendações

A partir das conclusões, o TCU estabeleceu ações obrigatórias (determinações) e recomendações aos órgãos envolvidos:

Determinações:

1.Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) e Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA):

•Criar uma estrutura orçamentária estável para o ZARC, com recursos fixos, reduzindo a dependência de convênios temporários.

•Melhorar a integração entre Proagro e ZARC para alinhar critérios e ampliar a eficácia das políticas de mitigação de riscos.

2.Banco Central:

•Reavaliar os critérios de análise e fiscalização das perdas do Proagro, assegurando maior precisão na concessão de indenizações.

Recomendações:

•À Embrapa: Revisar e atualizar, periodicamente, as metodologias utilizadas pelo ZARC, incorporando novas tecnologias e dados climáticos mais recentes.

•Ao Mapa e MDA: Expandir o ZARC para incluir culturas e regiões ainda não contempladas e priorizar os pequenos agricultores.

•Ao Banco Central e Instituições Bancárias: Ampliar a digitalização e a automação dos processos do Proagro para reduzir atrasos e aumentar a transparência.

“Tais propostas intentam impulsionar a definição de responsabilidades dentro do programa, em especial quanto à fiscalização dos serviços de comprovação de perdas. Porém, mais importante do que isso é eliminar a existência dos conflitos de interesses verificados, o que só é possível com a reconfiguração do Proagro”, declarou o ministro Vital do Rêgo.

Impactos e Reflexões

As fragilidades identificadas pelo TCU ressaltam a necessidade de aprimoramento desses programas, que desempenham papel estratégico para o agronegócio brasileiro. O Proagro e o ZARC são fundamentais não apenas para reduzir os riscos enfrentados pelos agricultores, mas também para assegurar a estabilidade do setor e a segurança alimentar no país.

As determinações emitidas pelo TCU apontam para mudanças estruturais que, se implementadas, podem fortalecer significativamente a capacidade do Brasil de enfrentar os desafios impostos pelas mudanças climáticas e pelas oscilações do mercado. Entretanto, isso requer comprometimento efetivo dos ministérios envolvidos e maior coordenação entre os órgãos executores e as instituições financeiras.

Para mais informações, acesse o relatório completo no site do TCU .

Colaboração: Jônatas Pulquério – Consultor de Política Agrícola e Ex Diretor de Gestão de Risco Agropecuário do MAPA

Relacionados

Deixe uma resposta

- Publicidade -spot_img

Recentes