Vitória de Trump deve acirrar disputa comercial entre EUA e China, beneficiando agro brasileiro, alertam especialistas
Donald Trump foi eleito o 47º presidente dos Estados Unidos e volta a comandar a maior economia do mundo. Trump conquistou mais de 270 delegados nas eleições de terça-feira, 05, derrotando, assim, a democrata Kamala Harris.
Especialistas avaliam que a mudança de direção na Casa Branca deve impactar as relações internacionais de maneira ampla, com reflexos diretos e indiretos sobre o agronegócio brasileiro.
“O Trump tem falado muito em medidas protecionistas e, em 2019, quando ele foi presidente, a guerra comercial contra a China beneficiou a soja brasileira”, lembra Welber Barral, sócio da BMJ Consultores e ex-secretário de Comércio Exterior do Brasil. Ele acredita que, caso o republicano implemente sanções contra Pequim, um cenário semelhante poderá se repetir.
Em recente declaração, o republicano prometeu aumentar as tarifas em até 60% para produtos chineses e 200% sobre veículos elétricos. Historicamente, essas medidas de tensão com o país asiático abriram espaço para o Brasil no mercado agrícola.
“A briga comercial com a China vai piorar e os chineses vão revidar comprando menos agronegócio, produtos do agronegócio dos Estados Unidos para comprar do Brasil”, avalia Roberto Dumas, professor de economia chinesa do Insper.
Na avaliação do sócio-diretor da Pátria Agronegócios, Matheus Pereira, tanto Trump quanto Kamala apresentaram propostas de intensificação do conflito comercial com a China. No entanto, a vitória do republicano, cria um movimento mais acelerado no conflito comercial, mas com efeito temporário.
“Na nossa tese de mercado hoje, a gente tem um efeito residual do pós-eleição muito rápido”, diz Pereira. “Vale lembrar que, em 2016, na última vitória de Trump, todo o efeito residual no pós-eleição foi revertido dentro dos três meses seguidos”, complementa, destacando que os efeitos no mercado agrícola não devem durar mais de três ou quatro semanas a partir do resultado final das eleições.
Ponto de atenção ao Agro brasileiro com Trump de volta à Casa Branca
A agenda verde nos EUA é um ponto de atenção. Ao longo da campanha, a candidata democrata, Kamala Harris, defendeu propostas voltadas à sustentabilidade, incluindo incentivos ao uso de milho na produção de etanol e de soja para biocombustíveis.
Welber Barral, observa que os EUA estão analisando regras semelhantes ao Mecanismo de Ajuste de Carbono na Fronteira da União Europeia, conhecido como CBAM. Esse mecanismo, que faz parte do acordo verde europeu, estabelece uma taxação de carbono sobre produtos importados, visando alinhar as emissões de carbono das importações aos padrões ambientais europeus.
Se adotadas, “essas regulamentações podem impactar toda a cadeia produtiva de exportação, exigindo maior transparência e práticas sustentáveis por parte dos produtores brasileiros”, comenta Barral.
Entretanto, com a vitória de Trump, a pauta não deve avançar rapidamente. O republicano defende uma economia baseada no old money — voltada à extração de petróleo e minério de ferro. “Com Trump, não só podemos ter mais conflito comercial com os chineses, depreciando a nossa referência do mercado da soja em Chicago, mas também menos uso da soja para biocombustíveis dentro do território norte-americano”, destaca o sócio-diretor da Pátria Agronegócios.
No último ano, o comércio de bens entre Brasil e EUA atingiu US$ 75 bilhões. No setor agrícola, as exportações de suco de laranja se destacam. Em setembro, Washington foi o segundo maior mercado para o produto brasileiro, respondendo por 32,1% dos embarques, enquanto a Europa ocupou a primeira posição, com 52,8%. A relação bilateral entre os dois países tem 200 anos de história.
Fonte: Agro Estadão