Especialistas aconselham diminuir a alocação em aplicações financeiras de renda fixa, especialmente títulos atrelados aos juros, e aumentar os aportes em investimentos de maior risco.
Após o começo de cortes da Selic, enfim, especialistas aconselham diminuir a alocação em aplicações financeiras de renda fixa, especialmente títulos atrelados aos juros, e aumentar os aportes em investimentos de maior risco. Aos conservadores que não gostam das oscilações da renda variável, a dica para ganhar mais são principalmente títulos atrelados à inflação.
Com a desaceleração da inflação, a autoridade monetária finalmente diminuiu a taxa básica de juros da economia nesta quarta-feira (2), em 0,50 ponto percentual, para 13,25% ao ano, depois da maior subida de juros em uma década. A decisão impacta a vida financeira dos brasileiros de duas formas: diminui o custo do crédito e o rendimento de aplicações financeiras de renda fixa.
Especialmente os títulos atrelados à Selic do Tesouro Direto e os papéis emitidos por bancos atrelados ao CDI (que acompanha a Selic), como CDBs, LCIs e LCAs, renderão menos a partir de agora.
Ainda é uma dúvida até que nível os juros cairão e em qual ritmo, mas a expectativa é que eles continuem diminuindo. Os economistas esperam que os juros recuem para 12% no fim de 2023 e para 9,25% no final de 2024, conforme o Boletim Focus mais recente, anterior ao corte da Selic.
Ainda são altas taxas, mas outras aplicações financeiras devem render mais. Devido a essa previsão, alguns especialistas indicam diminuir a exposição aos títulos atrelados à Selic ou ao CDI.
Essa é a recomendação de Rodrigo Azevedo, economista, planejador financeiro e sócio-fundador da assessoria de investimentos GT Capital, ligada ao banco BTG Pactual. “Sugerimos diminuir essa classe porque os estudos mostram que, nos começos dos ciclos de cortes de juros, os títulos atrelados à Selic ou ao CDI rendem menos do que outros papéis de renda fixa”, afirma.
Contudo, ele diz que esses títulos continuam os mais sugeridos para deixar a reserva de emergência, um dinheiro capaz de bancar as despesas fixas mensais por um determinado período em caso de emergências. Eles permitem resgatar o valor a qualquer momento sem perdas. Isso significa que não é para abandonar a renda fixa.
Aos investidores conservadores que desejam ganhar mais para realizar objetivos de médio e longo prazo, mas não gostam das oscilações da renda variável, o conselho é investir em títulos atrelados à inflação. Esses papéis oferecem como rendimento a inflação ao longo do período mais uma taxa fixada na compra.
Apesar da desaceleração da inflação, esses títulos continuam protegendo o investidor da alta generalizada dos preços e ainda pagam taxas atrativas, apesar de menores. No Tesouro Direto, dá para achar esses papéis oferecendo a inflação mais até 5,4%, com datas de vencimento entre 2029 e 2045.
“Os títulos atrelados à inflação são os investimentos que mais acreditamos. É difícil de encontrar esses juros reais em outros países e a relação entre o risco e o retorno está melhor nesses papéis do que nos títulos prefixados”, afirma Rodrigo Cabraitz, gestor de portfólio de alocação de ativos da gestora de fundos de investimentos Principal Claritas.
Já os títulos prefixados, que oferecem uma taxa fixada na compra, atualmente estão valendo menos a pena, na análise de boa parte dos especialistas. O mercado já embutiu o corte de juros nas taxas desses papéis, que caíram desde o começo do ano. Ainda existe o risco de a Selic cair mais devagar do que o esperado e o investidor ficar preso em um título que paga menos que a taxa básica de juros ao longo do tempo.
João Daronco, analista da casa de análise de investimentos Suno Research, afirma não enxergar motivos para o investidor conservador deixar o Tesouro Direto, mas diz que os títulos prefixados perderam atratividade. “As taxas recuaram muito nos últimos meses e agora está mais difícil identificar o que é uma boa taxa”, diz.
Carlos Hotz, planejador financeiro e sócio-fundador da assessoria de investimentos A7 Capital, associada à corretora XP Investimentos, concorda que os títulos prefixados estão com taxas apertadas e que se acontecer eventualmente uma mudança na rota da Selic, o investidor pode sair perdendo.
Ele se preocupa principalmente com a atuação de Gabriel Galípolo, que o governo indicou ao Banco Central. “É possível que ele adote um tom menos agressivo de combate à inflação. Se isso acontecer, o bom humor do mercado pode mudar”, afirma. “Estou otimista, mas é bom lembrar que não deixaremos de ser o Brasil e teremos ruídos e volatilidade nos próximos anos”, diz.
Os especialistas aconselham alinhar a data de vencimento dos títulos atrelados à inflação e prefixados aos objetivos de cada um. É bom lembrar que esses papéis podem causar perdas se resgatados antes da data de vencimento e que os títulos mais longos oferecem melhores taxas, mas o preço oscila mais.
Caminhando para a renda variável
Em ambientes de cortes de juros, as aplicações financeiras de renda variável, como ações, fundos multimercados e fundos imobiliários, costumam andar. A bolsa brasileira avança até três vezes mais que o CDI durante ciclos de cortes de juros, apontam dados históricos.
Apesar da alta de 10% do Ibovespa neste ano, os especialistas afirmam que as ações brasileiras continuam com preços em níveis atrativos e que há potencial para elas se valorizarem ainda mais.
Eles aconselham que os investidores com foco de longo prazo e com perfil de moderado a arrojado – não os conservadores –, comecem a aumentar a alocação em investimentos de maior risco.
Aqueles que ainda não possuem renda variável na carteira podem começar com fundos imobiliários e fundos multimercados. Já os que já têm podem elevar a fatia de ações, com a ajuda de uma carteira recomendada, ou de fundos de ações. Contudo, essa exposição deve ser feita com cuidado.
“Acho que a alta da bolsa continuará. O grande fator de cautela atualmente é o ambiente externo, mas o nosso cenário base é de uma recessão mais breve, que não deve ter reflexo negativo no Brasil. Além dos investidores estrangeiros, os investidores institucionais e pessoas físicas devem retornar para a bolsa”, afirma Cabraitz, da Principal Claritas.
Daronco, da Suno Research, destaca que especialmente neste momento de virada, é bom conhecer e respeitar o seu perfil de investidor. “Não adianta ser conservador e migrar para a renda variável apenas porque a renda fixa está em baixa. O conservador que migrar para a renda variável acabará saindo na hora errada e perdendo dinheiro, mesmo com oportunidades”, diz.
“Ainda não conhecemos até onde vão os cortes de juros e a renda fixa continua atrativa. Não é momento de correria e o investidor tem a oportunidade de fazer movimentações com tranquilidade”, acrescenta.
Fonte: Valor Econômico