O fenômeno traz risco para germinação da semente e desenvolvimento do grão; busca pelo seguro rural deve aumentar.
Sem se desesperar, o produtor de soja vai ter que conviver com as consequências do El Niño nos próximos meses, especialmente no Centro-Oeste. Se por um lado, muitos se prepararam contra as chuvas intensas previstas para agosto e setembro, outros ainda não decidiram sobre as semeaduras.
Diante dos futuros desafios para o início da próxima safra (2023/24), que incluem as consequências da amplitude térmica, a indicação é investir em sementes com alto potencial de germinação, em auxílio técnico para monitorar clima e plantio e em palhada para proteger o solo.
É o que sugere Juliano Ribeiro, engenheiro agrônomo e gerente na Produce. “No final do ano e início de 2024 haverá, ainda, secas e a planta precisa de cerca de cinco milímetros de chuva a cada quatro dias, para desenvolver bem. Nossa preocupação é porque não há previsão que isso aconteça”, afirma.
Entre novembro e dezembro há a fase de reprodução da soja, período de “atenção total”, quando pode acontecer má formação dos grãos e consequente queda na qualidade a ser colhida, por isso a preocupação com as variações climáticas do fenômeno do Oceano Pacífico citadas por Ribeiro.
A dica é antecipar a produção, plantando mais cedo que puderem, após o vazio sanitário, para arriscar pouco e não ter problemas com sementes.
“Nossos produtores melhoraram o manejo, aumentaram área de plantio, investiram em máquinas, o que ajuda a diminuir o risco do El Niño. Não há que temer um super fenômeno, mas uma tendência de alterações para a próxima safra, pois os efeitos são estimados em 18 meses”, detalha à Globo Rural.
Interesse no seguro rural aumenta
De acordo com Ribeiro, haverá um aumento no volume dos contratos a partir de agosto, quando o produtor terá uma visão mais concreta de como vai seguir. O cenário, inclusive, fez com que a Produce – do ramo de sementes e adubos – passasse a oferecer o seguro rural por causa do El Niño desde 2022.
“Haverá uma crescente do seguro agrícola a partir de agosto. O Rio Grande do Sul, que vem há quatro anos perdendo pela seca, é o Estado que mais contrata seguro. Embora a procura ainda está um pouco fria por causa dos movimentos de mercado, a contratação deve aumentar”, diz à Globo Rural.
O corretor de seguros agrícolas Danilo Criveli concorda com a avaliação. “Apesar de um mercado mais retraído no primeiro semestre, acreditamos em um maior dinamismo a partir de agosto, ainda que a subvenção esteja menor neste ano. A expectativa é de aumento pela busca por essa ferramenta”, explica o representante da Agrotech, empresa de seguro agrícola.
De acordo com a Confederação Nacional das Seguradoras, a demanda brasileira por seguro rural triplicou nos últimos cinco anos. Em 2022, o seguro rural atingiu R$ 13,4 bilhões em prêmios e pagou R$ 10,5 bilhões em indenizações no acumulado do ano.
O que o produtor precisa fazer agora
- Investir em sementes de alta qualidade com alta capacidade de germinação.
- Está na hora de comprar insumos. “Boa parte dos produtores já comprou, mas quem ainda não, vai precisar antecipar os cuidados com as chuvas que vem por aí. Cuidar do começo é o mais importante”, enfatiza Ribeiro.
- Ter uma empresa parceira para acompanhamento técnico de rotina a fim de ter dados de controle e desenvolvimento da plantação, meteorologia, monitoramento de áreas para ver quais estão desempenhando melhor, entre outras informações de pré e pós colheita.
- Planejar uma palhada nos terrenos sem cobertura para garantir durabilidade da soja no campo.
O produtor que ainda não preparou seu solo deve dedicar esforços a esta atividade. Ribeiro reforça a necessidade de melhorar a gestão de área de plantio e fazer cobertura com palha ou um mix de cobertura para garantir a absorção de nutrientes no terreno.
Além disso, ele comenta que, nos últimos anos, os produtores passaram a olhar alternativas de safrinha, como cultivos de inverno para evitar perda de rentabilidade.
“O agricultor pode ter uma margem mais estreita e não vender a soja a R$ 180, como no ano passado, mas vai ter uma próxima safra com custo produção menor e relação de troca favorável”, explica.
Quem sai ganhando?
O El Niño pode impactar no aumento de preço das commodities, devido a uma possível oferta com qualidade menor. De acordo com o engenheiro agrônomo, isso vai beneficiar o produtor que está com produto armazenado e conseguirá melhorar sua lucratividade frente aos possíveis prejuízos do clima nos grãos.
Ribeiro reforça, ainda, que a previsão de colheita de soja no mundo – estimada em 403 milhões de toneladas para a safra 2023/24 – é 8% maior do que no ciclo anterior, e o Brasil, embora não tenha oficializado as estimativas, deve manter o mesmo ritmo.